Relato: IYPT 2011 no Irã (parte 2)

Saindo do aeroporto, nosso guia (o Michael, acho que não falei o nome dele ainda) nos conduziu até um ônibus. Inicialmente, tudo certo, mas depois nos falaram que era o ônibus errado. Problema: minhas malas já estavam dentro do bagageiro… Fomos falar com o motorista para tirar a mala, contrariado ele abriu o compartimento das malas; porém, quando viu qual era a mala, começou a gritar qualquer coisa em persa e não parecia ser nada muito agradável. A mala continuou lá, mas por fim a gente foi naquele ônibus mesmo.

Ainda estava escuro quando a gente saiu do aeroporto. Fazia mais de 24h que não víamos a luz do sol pois as janelas do avião nem tinham sido abertas durante a viagem. Aos poucos, o dia foi nascendo, revelando uma paisagem meio amarelada, desértica, parecido com aquilo que se vê na TV quando passam o Oriente Médio. O Irã é um lugar seco e cercado de montanhas, uma paisagem bem diferente da que estamos acostumados no Brasil, mas bonito de certa forma. O rosto do Aiatolá Khomeini era figura presente nas fachadas de prédios e rochas nas laterais das ruas. Bandeiras do Irã ondulavam com a passagem do vento aos montes a cada viaduto. Fomos conversando com o nosso guia e ele foi nos contando algumas coisas, como o fato de que ele havia morado na Austrália e fazia engenharia elétrica na Amirkabir University of Technology.

Primeiro eles passaram pelo alojamento dos meninos, uma situação não muito confortável, visto que eu e a Julliana teríamos que ir ao alojamento feminino sozinhas até então, num ônibus onde só estavam dois homens completamente desconhecidos que não falavam uma palavra em inglês. Por fim, o Michael e a guia da Polônia (Hoda) nos acompanharam até onde nós deveríamos ficar. Enquanto esperávamos os meninos descarregarem as malas do ônibus, a Hoda ficou conversando com a gente, nos disse que não havia problema em deixar o lenço não muito justo na nossa cabeça e uma parte do braço aparecendo, desde que a manga estivesse pra baixo do cotovelo, o que era um alívio, porque eu já estava com muito calor e não estou acostumada com manga comprida. Nem as mulheres no Irã gostam disso, elas se cobrem pela lei e não pelo costume propriamente dito.

Chegamos ao alojamento. Inicialmente, achei aquilo tudo muito estranho, ainda estava com um solo meio arenoso, com pedras que nos conduzia até o prédio que íamos ficar. Ao lado, ficava o prédio da física da AUT, onde seriam sediados os tão esperados Physics Fights. Entramos no alojamento. A primeira pessoa que nos recebeu foi a Narjes. Jovem, muito educada e prestativa, aparentemente muito apegada a religião, vestida de preto da cabeça aos pés. Elas nos conduziu até os quartos e nos disse para descansar até a hora do almoço, que havia um tempo. Nosso quarto era composto de 2 beliches, sendo duas camas para nós e duas para as meninas da Geórgia. Além disso, estávamos em uma espécie de “apartamento”, com um “local de convivência”, uma geladeira, um banheiro e mais um quarto, onde ficariam meninas da Áustria (que já estava no alojamento e foi quem conhecemos primeiro), Coreia do Sul, Suécia e Tailândia. Era tud coberto por um carpete verde e os sapatos tinham que ficar do lado de fora.

Tomei um banho, num chuveiro (azul pra água quente e vermelho pra fria (???)) cuja porta dava direto no nosso quarto, e dormi. A única coisa que eu lembro depois disso foi a Narjes entrando no nosso quarto perguntando se a gente ainda estava dormindo e falando que a gente estava atrasada. Foi uma correria pra arrumar tudo, mas no fim das contas ainda estava todo mundo lá em baixo, pois nossos guias não haviam chegado ainda pra nos levar ao refeitório.

Os meninos chegaram de ônibus. O refeitório foi… hm…. vamos dizer que uma surpresa. A comida era servida com a mão de mulheres do outro lado da gôndola… não é uma coisa que a gente está muito acostumado por assim dizer. Como opção tínhamos o prato que nos acompanharia tooodos os dias: Kebab. Arroz com açafrão, vegetais cozidos (incluindo um tomate que era meio preto) e carne. Outra coisa curiosa: usávamos colher e garfo, não tinha faca.

Do refeitório para o prédio da física. Lá estavam as bandeiras de todos os países participantes, mas a nossa estava “um pouco” modificada: a faixa do meio estava amarela, havia um & em vez de E no “ordem e progresso” e a estrela acima da faixa estava, digamos, “perdida”. Por mim, eu proporia trocar por uma das nossas bandeiras, mas ninguém quis reclamar com nossos anfitriões. Ficamos esperando arranjarem uma sala. Não havíamos ensaiado as nossa apresentações na última semana, então era essencial fazermos isso já, pois no alojamento, sendo um time misto, era inviável. Nos levaram a senha da internet também, o que me permitiu enviar e-mails para os meus pais, acho que a minha mãe já estava ficando meio louca por aqui. Foi até bom ficar ali dentro, naquela sala eu podia tirar aquele lenço e o casaco e o calor estava demais.

Más notícias: uma das minhas apresentações mais completas estava durando 9 min. O Victor e o Rawlinson tiveram que sair para a reunião dos IOCs e jurados. Por volta das 6 ou 7h da noite, o Michael nos chamou para irmos ao coquetel de boas vindas. Chegando lá: água! Todo mundo estava morrendo de sede. Ouvimos alguns discursos, entre eles umas frases sobre a presença de mulheres nas universidades de tecnologia do Irã. Estava meio difícil de andar no local, era muito cheio de plantas com espinhos, mas era um espaço bonito, cheio de flores. Depois disso tudo… comida. Eu sou meio chata pra comida, mas o que falaram é que tinha um caroço enorme no meio de um dos pratos… Comi um pote de flan industrializado. Fui apresentada ao tal do Lavash, um pão que é fino feito papel, quase não tem gosto, mas foi o que me manteve em pé o torneio inteiro, porque era basicamente a única coisa que eu comia além de umas bolachinhas que tinha no alojamento e de pringles e barra de cereal que eu tinha levado. A verdade é que eu emagreci uns 2kg nessa viagem.

Depois da refeição, fomos pagar as taxas de inscrição e coisas relativas, de maneira muito desorganizada por sinal. Queríamos ensaiar as apresentações e terminar o que ainda faltava nos relatórios (sim, ainda tinha coisa pra fazer!), mas tinha muita gente cansada. Os meninos pegaram o ônibus e nosso guia nos acompanhou até o alojamento feminino. Lá, a gente ainda conversou um puco com moças que estavam ajudando na organização, com as meninas da Bielorrússia e da Bulgária, que foram visitar todos os quartos, da Suécia e da Tailândia. Tarde da noite, chegou a componente da Coreia. Todas elas eram muito simpáticas. Mas finalmente, fim do dia, hora de dormir, o dia seguinte seria cheio. 2 da manhã, terminei de falar no Skype com meu pai e… dormi.

Obs.: as fotos abaixo, como todas as que vão acompanhar os posts dessa série, foram tiradas não só por mim, mas também pelo Fujii, pelo Rawlinson, pelo Matheus e pelo Lucas.

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